Crónicas do Mundo Mundial
Brasileirando em Madrid
Brasil - Croácia. Prometia ser o melhor jogo do grupo F. Onde ver a estreia dos campeões em título, estando em Madrid? Algum "canarimarada" solidário avisou na Internet que ia ter festa na Casa do Brasil, que fica em Moncloa, com direito a telão e tudo. Boa oportunidade para sacar da gaveta a amarelinha número 21 (igual à que Viola usou quando jogou uns minutos na final de 1994 contra a Itália). Vou para lá.
Embora algo escondida, a Casa do Brasil foi fácil de achar. Bastou seguir a procissão amarela que nascia da estação de metro de Moncloa. Ambiente de festa, com muita batucada, e gente a mais para um espaço até espaçoso. Um sujeito suado, de óculos, com ar de ser da casa cerrava o caminho com os braços abertos: "Auditório! Auditório!", tentava pastorear a manada. Sigamos o seu apelo. Impossível conseguir uma cerveja com tanta gente na frente do balcão. A 15 minutos do início do jogo, talvez se encontre um lugar sentado no auditório, onde está o ecrã gigante...
Perfeito! Assistir a um episódio da história do futebol, em directo, num cinema! A coisa prometia. Começa o jogo, com uma reacção histérica da plateia. Cedo a gente se apercebe que a Croácia não é o timinho perna-de-pau que muitos esperavam. Rápidos e habilidosos, os jogadores de xadrez vermelho foram muitas vezes parados com recurso à falta. "Caiu sozinho", gritava uma mulher recusando as evidências do replay. Cada vez que o Brasil ameaçava o golo, uma festa danada. Quando eram os adversários que o faziam, um suspiro aterrador atormentava a massa. O relógio foi passando, com cada vez mais suspiros que festejos. Até que chegou o chute redentor de Kaká. Arrancado a ferros. Ninguém economizou foguetes. As oportunidades para queimá-los não iam ser muitas.
A segunda parte, um tormento. A Croácia se agigantava, tomava conta do jogo, jogava melhor... Alguém tentava quebrar o gelo: "Quem trocou os uniforme dos time?". A piada era boa, mas ninguém queria rir. O apito final foi tão comemorado como o milagre de Kaká. O resultado final ajudava todo mundo a acreditar que o Brasil tinha jogado melhor, que ainda era o melhor... Na contra-mão, um caboclo solitário caia na real: "A Croácia tá bem. O Brasil tem que melhorar".
No balcão do bar, já não estava a multidão de antes do jogo. Também, pudera... a cerveja tinha acabado. As pessoas estavam alegres, mas não teve samba. O edifício foi esvaziando aos poucos. O riacho amarelo corria agora em direcção ao metro. Lá embaixo da terra, os brasileiros não passavam despercebidos nem que quisessem. Um, ao entrar no vagão, abriu a janela, dirigindo-se aos amigos que esperavam do outro lado da plataforma: "Esse trem aqui vai pro Brasil. Cês tão errados. O Brasil é pra esse lado aqui".
Brasileirando em Madrid
Brasil - Croácia. Prometia ser o melhor jogo do grupo F. Onde ver a estreia dos campeões em título, estando em Madrid? Algum "canarimarada" solidário avisou na Internet que ia ter festa na Casa do Brasil, que fica em Moncloa, com direito a telão e tudo. Boa oportunidade para sacar da gaveta a amarelinha número 21 (igual à que Viola usou quando jogou uns minutos na final de 1994 contra a Itália). Vou para lá.
Embora algo escondida, a Casa do Brasil foi fácil de achar. Bastou seguir a procissão amarela que nascia da estação de metro de Moncloa. Ambiente de festa, com muita batucada, e gente a mais para um espaço até espaçoso. Um sujeito suado, de óculos, com ar de ser da casa cerrava o caminho com os braços abertos: "Auditório! Auditório!", tentava pastorear a manada. Sigamos o seu apelo. Impossível conseguir uma cerveja com tanta gente na frente do balcão. A 15 minutos do início do jogo, talvez se encontre um lugar sentado no auditório, onde está o ecrã gigante...
Perfeito! Assistir a um episódio da história do futebol, em directo, num cinema! A coisa prometia. Começa o jogo, com uma reacção histérica da plateia. Cedo a gente se apercebe que a Croácia não é o timinho perna-de-pau que muitos esperavam. Rápidos e habilidosos, os jogadores de xadrez vermelho foram muitas vezes parados com recurso à falta. "Caiu sozinho", gritava uma mulher recusando as evidências do replay. Cada vez que o Brasil ameaçava o golo, uma festa danada. Quando eram os adversários que o faziam, um suspiro aterrador atormentava a massa. O relógio foi passando, com cada vez mais suspiros que festejos. Até que chegou o chute redentor de Kaká. Arrancado a ferros. Ninguém economizou foguetes. As oportunidades para queimá-los não iam ser muitas.
A segunda parte, um tormento. A Croácia se agigantava, tomava conta do jogo, jogava melhor... Alguém tentava quebrar o gelo: "Quem trocou os uniforme dos time?". A piada era boa, mas ninguém queria rir. O apito final foi tão comemorado como o milagre de Kaká. O resultado final ajudava todo mundo a acreditar que o Brasil tinha jogado melhor, que ainda era o melhor... Na contra-mão, um caboclo solitário caia na real: "A Croácia tá bem. O Brasil tem que melhorar".
No balcão do bar, já não estava a multidão de antes do jogo. Também, pudera... a cerveja tinha acabado. As pessoas estavam alegres, mas não teve samba. O edifício foi esvaziando aos poucos. O riacho amarelo corria agora em direcção ao metro. Lá embaixo da terra, os brasileiros não passavam despercebidos nem que quisessem. Um, ao entrar no vagão, abriu a janela, dirigindo-se aos amigos que esperavam do outro lado da plataforma: "Esse trem aqui vai pro Brasil. Cês tão errados. O Brasil é pra esse lado aqui".
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